Marido de morta em atentado faz carta ao Estado Islâmico: “Não terão meu ódio”
O marido de uma das vítimas dos atentados terroristas em Paris na última sexta-feira (13) escreveu um texto que virou sucesso nas redes sociais. Na carta, ele faz uma homenagem à esposa e também manda recado para o Estado Islâmico, grupo que assumiu a autoria do atentado. “Vocês não terão o meu ódio”, afirma Antoine Leiris. O texto, divulgado no Facebook, já foi compartilhado quase 220 mil vezes.
A mulher de Antoine, Helene, estava na casa de shows Bataclan, onde aconteceu a maior parte das mortes. “Na noite de sexta-feira, vocês roubaram a vida de um ser humano excepcional. O amor da minha vida, a mãe do meu filho. Mas vocês não terão meu ódio”, inicia o texto. “Vocês querem que eu tenha medo? Que eu dê um olhar desconfiado aos meus irmãos na rua? Que eu sacrifique minha liberdade em troca de segurança? Vocês perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira.”
O filho do casal tem apenas 1 ano e 5 meses. Na carta, Antoine promete cuidar do menino e ensiná-lo a não responder ódio com ódio. “Somos apenas nós dois, meu filho e eu. Mas somos mais poderosos que todos os exércitos do mundo. (…) A cada dia, esse pequeno garoto irá insultá-los com sua felicidade e liberdade. Porque vocês também não terão o ódio dele.”
Leia todo texto:
“Vocês não terão o meu ódio
Na noite de sexta-feira vocês acabaram com a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem são e não quero sabê-lo, são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.
Por isso eu não vos darei a prenda de vos odiar. Vocês procuraram-no mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que vos fez ser quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com um olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira.
Eu vi-a esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos esta pequena vitória, mas será de curta duração. Eu sei que ela nos vai acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no países das almas livres a que nunca terão acesso.
Nós somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo a dar-vos, eu quero juntar-me a Melvil que acorda da sua sesta. Ele só tem 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como fazemos todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer-vos a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio.“
Correio 24 Horas