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Taxistas lucram 40% mais com aplicativos; empresas ainda dão prêmios em dinheiro

Tecnologia ajuda motorista a reduzir custos e conquistar clientes, enquanto apps tentam fidelizar motoristas de táxi

A largada já foi dada. Quem sair na frente e chegar primeiro nesta disputa  ganha dois prêmios – o consumidor e o taxista. Os aplicativos (apps) e empresas de táxis estão fazendo de tudo para conquistar os consumidores e também os motoristas. São brindes, concursos e até prêmios para agradar e fidelizar os mais de sete mil taxistas de Salvador.

A corrida não é só no taxímetro, como explica o presidente da Associação Metropolitana dos Taxistas (AMT), Valdeilson Miguel dos Santos. “Qualquer ação que as empresas façam para nos agradar conta muito. Tudo o que vem para somar é bom”, afirma.

Taxista há dez anos, o baiano Jailton Costa, 29, ‘veste a camisa’ dos aplicativos (apps) de táxi. Ele tem no seu smartphone ao menos três apps (Foto: Marina Silva/Correio)

Segundo ele, há dois anos – quando os apps independentes, intermediadores de corridas, surgiram – não era fácil atrair os profissionais do setor. Depois, quando o novo modelo de negócio mostrou que as ferramentas são uma opção moderna e econômica, a guerra passou a ser outra: quem vai conquistar mais taxistas e, consequentemente, mais corridas.

“A categoria passou a economizar até 20% dos custos depois que aderiu aos apps. Tanto o tempo de deslocamento e o combustível são grandes economias para a gente. Não precisamos mais circular à procura do passageiro, ele é quem nos procura”, defende.

“Agora, que os aplicativos estão mais populares, para incentivar o uso das suas aplicações, as marcas – como 99Taxis, Easy Taxi e Vá de Táxi (antiga Taxijá) – dão prêmios para quem pegar mais corridas, para aqueles que não dispensarem as corridas e, também, apostam em premiações em dinheiro”, completa.

A categoria passou a economizar até 20% após aderir aos apps. Não precisamos mais circular à procura do passageiro, ele é quem procura
Valdeilson dos Santos, presidente da Associação Metropolitana dos Taxistas (AMT)

Assim como ocorrem nas empresas tradicionais, algumas destas ações funcionam como formas de reconhecer e beneficiar os profissionais do setor. Mais satisfeitos, os taxistas passam a  “vestir a camisa” da empresa. “O 99Taxis, por exemplo, organiza um Campeonato de Taxistas mensal. Nele, eles conversam com a gente. É mais um momento de reunir a categoria, trocar ideias, etc. Também distribuem camisas, brindes, fazem sorteios”, acrescenta.

Reconhecimento
Considerado “sortudo” pelos colegas, o taxista Jailton Costa,  29, já garantiu três prêmios, que somam um valor de R$ 2,6 mil, através do aplicativo 99Taxis. “Ganhei R$ 1,6 mil porque fiquei entre os dez taxistas que mais fizeram corridas em junho. Em julho e em agosto, fiquei em segundo lugar e ganhei mais R$ 1 mil. Com esse dinheiro, investi em melhorias no meu próprio carro”, conta ele, que trabalha há dez anos de forma independente na capital baiana.

Contrato pelos apps de táxi envolve direitos e deveres do consumidor
(Foto: Marina Silva/Correio)

“Visto a camisa da empresa. Eles respeitam e valorizam a gente e o nosso trabalho. Os prêmios são um incentivo para a gente trabalhar mais. Isso é bom, porque a gente sente que tem alguém investindo em nós. Recebi camisas, já participei de cafés da manhã na sede da empresa e do evento de premiação”, complementa.

Costa utiliza ao menos três apps intermediadores de corrida e garante que sua renda foi incrementada em 40% ao mês de dois anos para cá por conta das ferramentas. “Uso bastante o Easy Taxi e o 99Taxis. Estou trabalhando mais, com uma quantidade de clientes que dobrou, e passando menos tempo com carro vazio”, diz. Só com estes apps, ele garante entre R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês.

Ganhei R$ 1,6 mil porque fiquei entre os dez que mais fizeram corridas em junho. Em julho e em agosto, ganhei mais R$ 1 mil
Jailton Costa, taxista que usa três apps e viu a renda subir em 40% após aderir à prática

Taxista há quatro anos, Jamilson Carvalho Celestiano, 33, revela que sua renda também foi incrementada após o uso dos aplicativos. “Desde então, estou com cerca de 70% corridas a mais. Se antes ganhava R$ 6 mil por mês, hoje ganho cerca de R$ 7,5 mil. Os apps ajudam muito, não consigo ir para rua sem o celular”, revela ele, que também trabalha pela cooperativa Use Táxi.

“Hoje em dia, atendo entre 8 a 9 passageiros por dia através dos apps e dois ou três com a rádio. Dou prioridade ao app. Os aplicativos são a maior rádio que existe”. Celestiano chegou a comprar um smartphone, no valor de R$ 2 mil, e um plano de internet melhor  para ter suas principais ferramentas de trabalho, o celular e a web, otimizados.

Relacionamento

Além de apostar em diversas ações para conquistar o cliente externo, a 99Taxis aposta em uma relação muito próxima com os taxistas, como afirma o diretor de Operações da empresa, Pedro Somma.

“A 99Taxis está em contato permanente com os taxistas. Temos pontos de atendimento nas principais capitais do país, onde os taxistas podem tirar suas dúvidas e retirar materiais para os carros, como adesivos e capas para encosto de cabeça”, diz.

Somma revela que a empresa realiza palestras educativas sobre assuntos diversos e engaja os taxistas com promoções e  brindes.

“Os taxistas têm uma importância enorme para nós da 99Taxis. Um grande exemplo disso é a promoção Corridas Premiadas 99Taxis, que realizamos de junho a agosto de 2015. Tivemos mais de três mil prêmios entregues por performance e nove carros sorteados pelo Brasil”, complementa.

Para ele, Salvador é uma capital importante para a empresa. Também por isso, a marca conta com um centro de relacionamento para os mais de quatro mil taxistas já cadastrados.

“Graças aos nossos investimentos em ações e promoções, o número de corridas na região cresce mais de 20% ao mês – em setembro foram mais de 60 mil corridas. Em Salvador, o crescimento de agosto de 2014 para o mesmo mês de 2015 foi de 1.020,16%. O aumento de taxistas cadastrados foi de 140,40%”.

Com 65% da frota de táxis de Salvador cadastrada no app, a Easy Taxi acredita que, com taxistas fidelizados é possível atender melhor os usuários.

“Estamos sempre com foco em melhorar a qualidade de vida e economia dos taxistas. A Easy Taxi tem o objetivo de aumentar a renda deles e de reduzir as horas trabalhadas”, explica o diretor de Operações, Fábio Margulies.

Segundo ele, as ações para os usuários fazem com que aumente o número de corridas para os taxistas. “Nossa equipe trabalha próximo aos taxistas para saber as necessidades deles. Com profissionais fidelizados, conseguimos atender melhor nossos usuários. Eles dão preferência para o app em vez de pegar corridas na rua, aumentando o número de taxistas online no aplicativo”.

Através de sua assessoria, o app Vá de Táxi (antigo Taxijá) informou que hoje tem mais de três mil taxistas cadastrados em Salvador. “O Vá de Táxi oferece 5% de desconto para taxistas que têm seguro. Além disso, não temos ação em vigor para os taxistas. Mas, em breve, teremos novidades em Salvador”.

Da Rádio para web
Apesar de ter tido uma queda de 25% após o surgimento dos aplicativos, a proprietária da Teletaxi Salvador, Maria Luiza Karan, conta que não é contra o uso dos mesmos.

“Cerca de 350 motoristas trabalham com a gente e com os apps. Não há problema, pois os taxistas fazem propaganda da cooperativa – eles sabem que a cooperativa é deles”, defende.

Acompanhando as novas tecnologias, a empresa passou a usar o WhatsApp, um app e o site como ferramentas de fazer pedidos.

Com isso, a empresa, que também faz diversas ações para agradar os taxistas, teve um crescimento de 10% nas corridas.

O foco é em melhorar a qualidade de vida e economia dos taxistas. A Easy Taxi tem o objetivo de aumentar a renda deles e reduzir as horas trabalhadas
Fabio Marguiles, diretor de Operações da Easy Taxi

“Participamos de torneios e fazemos festas. Também temos ações para os taxistas  com mais corridas. Na última vez, os vencedores ganharam um final de semana em uma pousada“. Na Ligue Táxi, a solução para  não perder clientes também foi criar um atendimento via WhatsApp, o que aumentou o número de corridas em cerca de 10%. “Os 370 associados são os donos. Fazemos campeonatos internos e reuniões”, diz o coordenador operacional, Mateus Souza.

Com 330 taxistas, a Ellite Táxi, por sua vez, teve uma queda de 10% a 15% nas chamadas por conta dos aplicativos independentes. Também para tentar acompanhar a nova forma de negócio, a empresa implementou um aplicativo próprio e atendimento via WhatsApp.

“Nos aplicativos, a disputa pelo cliente é maior. No entanto, a qualidade é menor. O tradicional jamais será vencido pelo novo, se tiver qualidade. Não é à toa que temos 50 motoristas na fila para entrar na empresa”, afirma o sócio Marcos Gondim.

Consumidor prejudicado pode fazer denúncia ao Procon-BA
Assim como ocorre em outras relações de prestação de serviço, o consumidor que se sentir lesado após uso de aplicativos (apps) de táxi pode reclamar na Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA).

A orientação é do coordenador administrativo e advogado do órgão, Filipe Vieira. Segundo ele, justamente pelos apps funcionarem com políticas de contratação diferentes, a recomendação é que o consumidor sempre leia os termos de uso.

“É preciso conhecer as condições do contrato antes da tomada de um táxi e da contratação efetiva do serviço. Neste documento, dá para ver a política de trabalho, as formas de pagamento, etc”, afirma ele, complementando que as pessoas só devem baixar apps de lojas virtuais confiáveis, como a App Store e a Play Store.

De acordo com Vieira, a versatilidade das relações nos meios sociais permite com que o consumidor adquira produtos ou contrate serviços, como os de táxi, sem que precise assinar um documento – são os chamados ‘contratos entre ausentes’. “A mera adesão ou clique no ‘concordo com os termos de uso’ significa a contratação deste serviço”.

É preciso conhecer as condições do contrato antes da tomada de um táxi e da contratação efetiva do serviço
Filipe Vieira, coordenador administrativo do Procon-BA

A contratação por estes apps envolve direitos e deveres que, uma vez descumpridos, podem gerar indenizações a favor do consumidor. “Isso ocorre no caso de um cliente que faça adesão do serviço sob a condição de determinada bandeira ou valor promocional, mas este valor não é respeitado. Ou se reservar um táxi com determinada qualidade e receber com qualidade diferente”, diz.

Nestes casos, o consumidor pode exigir a cópia do contrato e reclamar contra a empresa que ofereceu o serviço em um dos postos do Procon ou pelo telefone (71) 3116-0567.

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